Olhar Por Braga!

2006-05-05

(EX)CITAÇÕES – Citações que excitam qualquer um, particularmente a mim!

Quando o poder (paternal) cai no meio da rua
Rui Moreira/DM, 02-05-2006


Eu moro mesmo no meio da rua
P’ra mim a vida é dura
Mas meu tecto tem estrelas
E no alto um disco voador
[‘No meio da rua’ dos Kid Abelha]

Pai que é pai não deixa um filho no meio da rua. Por um filho damos a pele, viramos feras, fazemos o inimaginável. Diria Louça que eu não posso saber se é verdade o que afirmo porque não sou pai, mas permita-me que o sinta porque sou filho.
O sonho de qualquer pai é ver os seus filhos bem na vida. No entanto, por mais fortes que sejam os laços de afectividade ou de sangue, ninguém gosta de alimentar a ociosidade ou, como diria um grande amigo meu, por maior e mais generoso que seja um coração de pai “não há pão quente para malucos”. Nós, os filhos, temos que nos convencer que, por mais que custe, há um momento na nossa existência em que temos de ir à luta, soltar as amarras, fazermo-nos à estrada, ser o orgulho dos nossos papás.
Imagino que seja orgulho, precisamente, o que sentem os familiares daqueles jovens que inventaram o Google, ou dos que dão grandes pontapés na bola ou, por exemplo, dos papás, titis e vovós daqueloutros que, num rasgo de genialidade, intuição, capacidade de risco e espírito empreendedor procuram no mercado novos mercados e se lançam, no tempo certo e no momento oportuno, à sua sorte. Que terá pensado o pai do homem que fundou a primeira fábrica de palitos? De que tamanho seria a vaidade da mãe do inventor do post-it?
Pois aconteceu, recentemente, uma história dessas em Braga. Gostava de ter tido o momento de inspiração dos jovens que olharam para Braga e decidiram lançar-se no maravilhoso mundo das placas toponímicas. Repare, caro leitor, no sentido do timing, na excelência da visão empresarial, na qualidade da análise de mercado. Reflictamos em particular sobre a capacidade de antecipar as necessidades de mercado destes magníficos empresários, que não podiam sequer sonhar que ia haver concurso público daí a uns meses, mas que souberam observar a realidade circundante e assumir o risco. E verifiquemos, depois, o seu labor meticuloso que incluía a leitura atenta dos classificados do Primeiro de Janeiro e, quem sabe até, do Coffee News e das Dicas do Lidl. A verdade é que ao cabo de tanto e tão longo porfio, estavam agora perto de vencer – eram os únicos concorrentes – um concurso público municipal com vista à colocação de placas toponímicas contendo informação comercial. Abençoado concurso que mais parecia um “fato feito à medida”.
Acontece que o Presidente da autarquia que havia lançado o concurso era pai de um dos jovens, e uma vereadora era tia do outro. A oposição exigiu transparência e o concurso foi anulado e terá agora que ser repetido. Não é esse, no entanto, o meu ponto.
O meu ponto é precisamente a imagem de uma cara de pai babado, espantado e surpreso. “O meu bebé, quem diria” – terá pensado o ilustríssimo edil, ainda incrédulo. E a titi, quase encabulada, a jurar a pés juntos o desconhecimento da novidade. Apesar do embaraço político da situação, provocado por “falta de comunicação familiar” ou manifestação primeira de independência e liberdade empresarial dos referidos jovens, imagino uma vaidade demasiado grande para poder ser escondida: “Olha se eu sabia lá quem eram os senhores. Ele há coisas que, contadas, ninguém acredita…”. Um pai vive uma vida à espera de um momento destes.
É por isso que, neste momento particular de crise, em que tantos jovens encaram o futuro com tanta incerteza e preocupação, era bonito que todos nós, filhos de Braga, pudéssemos oferecer a nossos pais, familiartes e amigos, tamanha surpresa. Nem que para isso um certo poder, bastante paternal, tivesse que cair no meio da rua.
P.S. - Moral da história: cada vez mais, temos oposição em Braga.