Olhar Por Braga!

2006-08-09

(EX)CITAÇÕES – Citações que excitam qualquer um, particularmente a mim [3]

Quem se mete com o PS leva…
Mário Crespo (Expresso/Única-‘Quem TV’, 05-08-2006)


… DISSE uma vez Jorge Coelho. Para corrigir o lapso, o Partido Socialista, na altura, teve de recorrer a José Lamego. Nos dias que se seguiram, Lamego desmultiplicou-se em processos de “spin” mediático para dizer que o que tinha querido sugerir era “…levar uma resposta política”. Lamego, melhor que ninguém, soube antes de 74 o que era meter-se com poderes que se sentem inquestionáveis. Sabia que a resposta à contestação só deve ser política, ou cai-se no exagero que fez com que em Outubro de 1972, na Faculdade de Economia, o seu amigo José Ribeiro Santos, ao seu lado, tenha levado um tiro mortal da PIDE – que podia ter sido para ele.
O problema é que Jorge Coelho foi verdadeiro naquilo que disse. Quem se mete com o PS tem “levado”, como esta força política tivesse regularmente a necessidade de “dar” a quem se meta no seu caminho, para mostrar que quando manda está ideologicamente ungida para o fazer e não tolera desafios.
O mais recente caso é o dos sindicalistas da PSP. Foram despedidos porque o Estado achou a grosseria da sua retórica sindical ofensiva e sugestiva de que se sentiam acima da lei. Fraco argumento. As enormidades dos sindicalistas das Magistraturas são repetidas sem sanção disciplinar nem despedimentos (se bem que exonerar compulsivamente polícias seja mais fácil e seguro do que mandar para a rua procuradores e juízes). Uma leitura da dureza inédita da punição dos sindicalistas é que o Governo PS sentiu agora necessidade de repetir a eloquente mensagem de Coelho. Só que, retirar o modo de vida a dois homens adultos não é a resposta “política” que José Lamego sugeriu. É uma cacetada que vai pôr dois chefes de família no desemprego. Réplica tão mais exorbitante quanto o sindicalismo está moribundo em Portugal.
Os profissionais do obreirismo de Estado estão a ficar próximo das suas reformas e muitos deles, nos órgãos directivos das centrais, vieram de empresas que já faliram há muito. A actividade de representação laboral com algum significado limita-se agora à administração pública e sucedâneos.
Por isso, a mensagem anti-sindical do Governo (e é só isso que ela é) dirige-se a esse sector e lê-se nela uma hierarquia de avisos; para já, despedimos polícias. Professores, Ministério Público, Juízes e Forças Armadas acautelem-se! Podem acabar por “levar” mesmo!

Admirável Mundo...


... de (alguma) Política!
É com esta nova vaga que a política se quer reacreditar?

HdA

[revista Sábado, 20 de Julho de 2006]